Entre as pessoas que reprovam o mandato do prefeito Marquinhos Trad (PSD), há dois segmentos distintos. Para parcela dos campo-grandenses, a cidade está sendo mal administrada. Para outra parcela, o problema é a falta de gestão. Na verdade, quem reprova e quem critica expressa um sentimento cada dia mais presente nos diferentes lugares da capital, do centro aos bairros, sobretudo para quem depende dos serviços públicos de saúde, educação e limpeza ou da concessão do transporte coletivo.
Caos. Esta é uma palavra que, em geral, qualquer morador de Campo Grande que seja dependente do Sistema Único de Saúde (SUS) associa ao que encontra na rede de postos e unidades de pronto atendimento. Além dos problemas do cotidiano, como as filas, o atendimento, a falta de medicamentos em alguns postos, as listas de espera e a desorganização, o sistema ainda padece por causa da desvalorização dos profissionais, da falta de investimentos necessários e com as doenças oportunistas e episódicas, como a dengue.
Para se ter uma ideia do tamanho dessa epidemia, o prefeito deve ter festejado o balanço do mês de abril, quando o quadro estatístico apontou uma redução de 1.325 casos em relação a março – eram 9.721 notificações e agora são 8.396 (até 30 de abril). De janeiro a abril haviam sido registradas 27.417 notificações, com 4.729 confirmadas e seis óbitos. E ainda estão computados 301 casos de zika e 145 de chikungunya.
ESTRAGOS
O resultado é, então, mais filas nos postos e o atendimento precarizado ao extremo. Como se não bastasse, várias unidades carecem de melhorias elementares, como uma simples reforma no teto para impedir o vazamento de água. Na UBS da Cophavilla 2, segundo moradores da região, chove mais no interior do prédio que do lado de fora. Exageros a parte, a situação é lamentável. O posto fica sempre lotado de gente e quando chove o alagamento é inevitável.
Em consequência, o prefeito tomou a providência que considerava decisiva: trocou o secretário de Saúde. Demitiu um profissional competente e de reconhecidos méritos profissionais, Marcelo Vilela. Nomeou José Mauro Pinto de Castro Filho, que corre o mesmo risco causador da defenestração do antecessor: não receber do prefeito a atenção que o sistema de saúde pública merece. E todos sabem, talvez só o prefeito que não: o que torna caótico o serviço é a falta de gestão. E isso nenhum secretário resolve.
O pior nesse enredo: a nomeação de José Mauro foi uma interferência política, operada pela vontade do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que é primo de Marquinhos Trad. Em troca da nomeação o ministro fez uma promessa mirabolante, que será o apoio federal para resolver os problemas de saúde da cidade.
BASE AFLITA
Com folgada maioria na Câmara Municipal, Marquinhos Trad logo vai sentir mais forte a pressão de seus aliados, que querem respostas concretas e convincentes para dar aos eleitores. As cobranças são muitas e frequentes, partem de todas as regiões da cidade.
Aproxima-se o ano eleitoral e praticamente todos os 29 vereadores querem mais quatro anos de mandato. Os fiéis da Prefeitura na Câmara sabem que para se reelegerem algumas condições fundamentais estão postas, e uma delas é defender um governo que atenda a população. No caso da saúde, do transporte e de outras áreas essa atenção ainda não chegou e nas sessões do legislativo o reflexo é exibido constantemente, com o grande volume de indicações e proposições dirigidas às deficiências da saúde.
QUEIXAS
O vereador Dr. Wilson Sami (MDB), que é médico, tem na saúde pública uma das suas principais bandeiras. Ele participou no último dia três, sexta-feira, da reunião do Conselho de Saúde da UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família) Aero Itália, localizada no Jardim Aeroporto e que atende cerca de 12 mil pessoas da região, que engloba a Vila Popular e o Jardim Itália.
Participaram da reunião o coordenador do Conselho, Isaque Sebastião Francisco; a superintendente da Rede Municipal de Atendimento à Saúde, Ana Paula de Lima; representante da Prefeitura Municipal, Bruno Rocha; agentes de saúde; usuários da unidade de saúde; e gerente de Saúde do Distrito Imbirussu. A falta de profissionais para atender na unidade, assim como o não cumprimento do horário de atendimento estendido foram os principais problemas apontados.
“Temos apenas um médico para atender toda população aqui, o que é muito complicado. No dia 1° de maio era previsto o atendimento estendido na unidade, mas como vamos cumprir o horário sem médicos para atender?”, argumentou Isaque Francisco. Os agentes de saúde também questionaram a falta de EPI (Equipamento de Proteção Individual) e material básico para o trabalho. A superintendente da Rede Municipal de Atendimento à Saúde, Ana Paula de Lima, disse que a Secretaria Municipal de Saúde está priorizando as urgências e que todas as solicitações serão atendidas de acordo com a evolução do trabalho.
“Assumimos este trabalho há 25 dias. Como enfermeira, sei da necessidade dos médicos e profissionais da saúde. Determinamos prioridades a partir de zero, sendo esta a mais urgente. Sabemos que material é essencial para o trabalho, assim como esperamos em breve sanar o problema da falta de médicos. Para efetivamente termos eficiência no horário estendido é preciso que haja equipe, por isso estamos revendo esse horário em algumas unidades visando solucionar o quanto antes”, afirmou Ana Paula.
Diante do grande número de reivindicações, o vereador Wilson Sami colocou-se à disposição da comunidade, pois conhece bem a realidade das unidades de saúde. “Trabalhei por quase 30 anos em um posto de saúde, conheço os problemas dos médicos, dos demais trabalhadores e pacientes e vou ajudar no que precisar. Sabemos que os profissionais precisam de estrutura mínima e condições de trabalho para executar suas funções”, salientou.