Para conquistar mais quatro anos de mandato o prefeito Marquinhos Trad (PSD) terá de encontrar uma fórmula mágica, cujo poder seja capaz de superar os obstáculos que se agigantam a cada dia e formam uma barreira quase intransponível. Com o caos na saúde como carro-chefe de sua desastrosa performance no Executivo, o pessedista ainda tem contra si outros dois pesadelos: um, já visualizado, é a pulverização de candidaturas em 2020; outro, em fase de gestação, é o esvaziamento da base de sustentação política e administrativa que construiu na eleição e conseguiu manter até agora.
A inoperância técnica, gerencial e política do prefeito vem sendo – contínua e infelizmente – espelhada no cotidiano dos campo-grandenses que dependem da rede pública de saúde. Nas longas filas de espera das unidades de saúde, os beneficiários do SUS sofrem humilhações inconcebíveis para quem, muitas vezes, corre risco de vida se não for atendido com agilidade e da forma adequada. A comunidade, para expor sua revolta, até ironiza, comparando as administrações e observando que Marquinhos Trad conseguiu piorar o que já era péssimo.
O grande exército de descontentes da “era Marquinhos” cresce com os erros, a omissão e as trapalhadas de sua gestão em outras áreas. Mesmo socorrido por ações providenciais do Estado e verbas federais, o prefeito não consegue impor seu estilo no tratamento dado à cidade. As barbeiragens se acumulam, como demonstra o vexatório erro de engenharia na obra de revitalização urbana do centro, quando um trecho do calçamento teve que ser retirado e depois recolocado porque os responsáveis se esqueceram de colocar o piso tátil (para deficientes visuais).
FIASCOS
A confusão nos sistemas de cálculo e de cobrança da taxa do lixo e do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) foi outro fiasco gerencial que causou transtornos e aborrecimentos aos contribuintes. A cobrança absurda, por ser indevida, da Cosip – a Contribuição (obrigatória) para o Custeio do Serviço de Iluminação Publica – é mais uma bordoada no lombo dos milhares de habitantes da capital que não usufruem desse benefício nas ruas aonde moram. Acrescidos às tarifas exorbitantes de energia elétrica e água encanada, esses desembolsos geram uma indignação feroz que os eleitores geralmente extravasam nas urnas.
Além dos descalabros administrativos, Marquinhos Trad vem perdendo sua credibilidade e já não tem o mesmo prestígio de antes, predicados essenciais a quem se elegeu devendo apoios. Por isso, começam a surgir rachaduras em seu bloco original de sustentação. Na Câmara Municipal, vereadores de siglas que cacifaram sua candidatura já não o defendem com a frequência e a ênfase dos anos anteriores. Alguns falam até em deixar a base governista. A insatisfação dos vereadores nada mais é que a reprodução do descontentamento comunitário – afinal, são os representantes populares mais próximos do sentimento popular e não querem pagar o preço de uma conta que não fizeram.
Não por acaso a dispersão que começa a ser desenhada hoje tende a avançar para o processo político no âmbito da sucessão em 2020. Aos adversários previsíveis – como o PT e o MDB – Marquinhos está na iminência de ver seu caminho bloqueado também por legendas que o ajudaram a ser prefeito, especialmente o PSDB. Dessa forma, o PSD “tradista” ficaria, eventualmente, com parte do DEM (a ala ligada ao primo Henrique Mandetta) e partidos menores, entre os quais o PEN-Patriotas, do deputado Lídio Lopes, marido da vice-prefeita Adriane Lopes.
ACUADO
Preocupado com o cenário que se delineia e pressentindo que os tucanos podem desgarrar-se da base, Marquinhos vem buscando uma alternativa até então inusitada: atrair o PDT. Acuado, o prefeito procura novo oxigênio. Uma de suas tentativas é o assédio ao juiz federal aposentado Odilon de Oliveira, que se considera pré-candidato à Prefeitura. Marquinhos teria, então, de convencê-lo a tomar duas decisões: deixar o PDT e desistir de ser candidato. O ex-magistrado afirma não estar em busca de cargos, porém diz ser livre para permanecer ou deixar o partido, entendendo que são seus – e não do PDT – os votos que o levaram ao segundo turno da sucessão estadual. Porém, que se cuidem: o PDT já vê Odilon como carta fora do baralho e está de portas abertas para sua saída.
Se o PSDB sair de sua canoa, Marquinhos ficaria sem aquele que é seu maior e mais importante aliado e parceiro, o governador Reinaldo Azambuja. Um desastre para o prefeito e para a Prefeitura, porque sem o Estado a cidade estaria completamente às moscas em matéria de gestão. E o PSDB arrasta consigo outras legendas de expressivo peso político-eleitoral, entre os quais o PR e as correntes do DEM ligadas à ministra Tereza Cristina e ao deputado estadual Zé Teixeira.
E mais: o PT de Zeca Orcírio, o MDB de André Puccinelli, o PSC de Sérgio Harfouche, o PSL de Coronel David e Capitão Contar, o PDT de Jamílson Name e Dagoberto Nogueira e outros partidos são hoje nuvens cinzentas e ameaçadoras povoando o espaço que um dia já foi céu de brigadeiro para Marquinhos Trad.