O que são quatro anos? Podem ser daqui a pouco ou podem ser de uma espera que parece impossível de acabar. É como vivem os campo-grandenses que acreditaram nas promessas de um político que afirmou ter passado por um estágio de 20 anos para administrar a cidade em que nasceu e dirigir os destinos dos conterrâneos e de quem aqui desembarcou para viver e realizar seus sonhos.
Ao todo, o prefeito tem um mandato de 48 meses. Já se passaram 28. Mais da metade. Restam somente 20 meses para fazer o que não foi feito em quase dois anos e meio. Se ainda fosse o caso de um gestor efetivamente capaz e preparado, tão normal quanto considerar que dois anos e meio seriam suficientes é afirmar que quatro anos são uma eternidade.
Porém, não é o tempo o inimigo do prefeito Marquinhos Trad. É a sua própria e equivocada condução político-administrativa. Ele dirige a cidade com passos que se aproximam vez por outra do abismo. Não é só na saúde. O caos se esparrama por quase todos os segmentos do governo. Salvas as exceções de praxe, servidores qualificados que de tudo fazem para honrar a expectativa dos contribuintes e do povo em geral, a ação do poder público municipal é desastrosa.
Como um relógio de repetição todos os dias, a gritaria popular aponta para os mesmos alvos: saúde, educação, transporte e intervenções questionadas até pela base de apoio do prefeito, como é o caso do Prodes – o programa municipal de desenvolvimento que dá isenção de impostos como incentivo às empresas em troca de contrapartidas pré-estabelecidas. O Município renuncia a impostos essenciais para custear os serviços públicos e em troca recebe dos beneficiários bem menos do que foi assumido como a contrapartida.
Assim fica fácil empreender. Ganha-se imposto zero para devolver um quinhão muito abaixo do custo benefício. Na semana passada um ônibus de transporte escolar ficou com alunos que iam para a escola atolado num areal da Chácara dos Poderes. Os estudantes, moradores da periferia, perderam as aulas. O areão ali é antigo e seu entorno já é habitado há anos. A pavimentação das vias na região já deveria ter sido feita.
No centro da cidade, comerciantes se queixam de prejuízos com as obras do Projeto Reviva Centro. O prefeito prometeu, garantiu e afiançou que o custo-benefício vai compensar quando as obras estiverem concluídas. Dá para acreditar? Na 14 de Julho e entorno algumas casas comerciais fecharam, outras perderam mais de 60% do movimento. Os donos tiveram que mandar gente embora, numa época em que o País vive sua mais profunda crise de empregabilidade.
E por onde anda o homem que se preparou 20 anos para governar Campo Grande? Quem faz esta pergunta é cada cidadão que procura uma resposta concreta e satisfatória a alguém que não responde. Aliás, não ousa responder. Transfere para terceiros suas responsabilidades. O culpado pelo caos na saúde é o secretário ou a enfermeira. O culpado pelos problemas no transporte coletivo é o empresário que não investiu na frota para que seus ônibus novos trafeguem por ruas esburacadas e sem as necessárias estruturas de circulação.
Que mesmo sem responder a perguntas como estas, o prefeito com 20 anos de doutorado em Campo Grande tenha ao menos argumentos convincentes e humildade para passar o tempo que lhe resta de mandato pedindo desculpas à população. Quatro anos passam rápido.
GERALDO SILVA